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sábado, 23 de abril de 2011

Capitulo 6


Naquele preciso momento, já não sabia onde estava. Não estava no motel nem mesmo em Vancouver. Estava perdida no meio do desconhecido, sem saber por onde andar ou ver que caminho tomar para minha própria segurança. O que apenas via era um prado. Um prado revestido de campos verdes, denotando as pequenas e delicadas flores contidas no seio da terra por ali espalhadas. Ao fundo, via-se um grande carvalho, onde as folhas caíam lentamente sobre as leves brisas do vento deixando-se levar pela corrente do seu destino.
Caminhei passo ante passo, dirigindo-me até ele. Observei uma figura em movimento a ocultar-se na sua sombra. O sol não rompia a protecção que as folhas providenciavam ao tronco do carvalho, apenas delineava pequenos raios de luz incidentes na frescura da terra. Os espinhos que haviam por entre a relva eram de algum modo diferentes. Não magoavam nem rasgavam a pele cobrindo tudo de um sangue vivo por onde quer que passasse. Estava confusa. Aquele sítio não me parecia real nem com nada que já houvesse encontrado na minha outra vida.
Porém nada reconhecia, ao mesmo que uma sensação de familiaridade me fazia contorcer de perguntas incessantes sem respostas concretas. Custava a crer que havia chegado a um nível de consenso fora do normal. Acho que quer para iniciados quer para vampiros como os da espécie de Fred, tudo resultava por ser o mesmo para cada uma das partes. Apesar de diferentes, todos tinham o mesmo objectivo: cruzar a linha da mudança e chegar a ser vampiros completos. O sangue era a única coisa pela qual eles matavam e saciavam, enquanto para a nossa espécie de vampyros o sangue dava-nos aquela sensação anormal de prazer inexplicável. Volto a dizer, coisa esquisita.
Parei por momentos e contentei a beleza interior do carvalho, enquanto a figura que se escondia por detrás dele saía do seu esconderijo e se dirigia na minha direcção. Com um sorriso nos lábios e com a ajuda do sol a incidir na sua pele clara, pude ver a face que se oculta por detrás das sombras. Era o Fred. Ele brilhava perante o sol, algo que não pude deixar de reparar por vários minutos. A sua cara parecia repleta de diamantes ofuscantes e os seus olhos continuavam mergulhados no seu vermelho-vivo. Não obstante, ainda residiam marcas de uma beleza puramente encantadora.
Chegou a estar cerca de cinco centímetros, mesmo antes de se afastar um pouco para me poder olhar passivamente. A sua mão brilhante chegou à minha cara e ergueu-a lentamente, até o poder olhar nos olhos. Eram assustadores devido à sua cor, mas pareciam necessitar algo. Pareciam que estavam à procura de algo que os preenchesse. A princípio, pensei que precisariam de sangue ou algo assim. Mas estava enganada. Os seus lábios abriram-se num sorriso ainda mais aberto que o anterior, o que me fazia inexplicavelmente bater o coração, algo que nunca presenciara com ninguém.
Não falamos. Apenas não quis dar a primeira iniciativa devido ao medo de estar assim tão íntima perante ele. Aproximou a sua face lentamente da minha e semeou os seus lábios nos meus, fazendo correr nas minhas veias um sentimento que não sabia que existia. Sentia calor a transbordar naquele gesto de carinho por parte dele. Sentia que era ali que eu queria estar. Ao seu lado, reconfortada nos seus braços. Mas não. Aquilo não era real. Era apenas uma partida que o destino me queria pregar. Não que negasse tudo aquilo que estava a acontecer, mas aquilo não era a realidade original.
Acordei poucos segundos depois embrenhada nos lençóis brancos da minha cama, a olhar para cada canto do quarto a ver se estava tudo bem. Tudo no sítio, tudo normal. Supus que aquilo tudo que se passara era um simples sonho adverso dos acontecimentos narrados pelo próprio tempo que me entregava a posse do meu destino. Mas não o queria assim estendido de bandeja. Queria apenas que ele decorresse conforme mandasse a natureza. Não iria contra os meus princípios. Apenas ficaria mais descansada se repousasse um pouco.
E assim o fiz. Estendi os braços para o lado e revirei-me para o outro lado, relaxando cada parte de mim a maciez da cama. O sono estava a dificultar-me os pensamentos, mas talvez até melhor assim. Descansar a mente e deixar-me submeter ao sono que me atacava sem piedade. De novo, fechei os olhos. Mas nada mais aconteceu. Nenhum sonho esquisito se relançou sobre mim nem nenhuma visão anormal do mundo real. Mas algo que nunca queria que acontecesse era ir para uma Casa da Noite. Não me encaixaria naquele novo mundo.
Necessitava ainda do meu, por motivos que ainda irei descobrir um dia. Talvez fosse hoje, talvez amanhã. O que importava era que eu iria descobrir a razão pela qual continuava a residir aqui neste sítio repleto de humanos insignificante e definitivamente ignorantes demais para o meu gosto. O silêncio permanecia residente em todo o quarto, apesar de ouvir apenas o vento a soprar contra as rígidas plantas do lado de fora do motel. Tinha de parar de insistir naquilo tudo. Tantas inquietações, tantas afirmações e interrogações já estavam a cansar-me ainda mais do que o normal.
Queria apenas um pouco de paz interior e de um sono relaxante. Havia coisas que ainda não estavam esclarecidas entre mim e o Fred, apesar de só o ter conhecido há pouquíssimas horas. Acharia as minhas respostas quando o confrontasse? Não fazia diferença para mim, neste momento. Dormir era a única opção e a única hipótese de esquecer aquilo tudo. Aprofundei ainda mais a sensatez do sono e deixei-me levar pelas suas réstias, ainda com os nervos em franja. Quando finalmente já dera por mim, estava a dormir. Sem preocupações, sem nada que me incomodasse ou ralasse. Por fim sossegada e descansada.

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